Psicoterapeuta de Jundiaí conquista espaço na Europa com livro que convida mulheres a pausarem sem culpa
Da redação
Quando a psicoterapeuta e escritora Carol Hahmeyer fraturou o tornozelo, em 2024, a última coisa que imaginava era que aquele episódio se tornaria o estopim de uma das fases mais criativas, profundas e transformadoras da sua trajetória. Hoje, menos um ano depois, a autora de Jundiaí celebra a seleção de seu livro A Coragem de Pausar para a Mostra Internacional de Livros, que acontece em novembro, em Madri, na Espanha.
O que poderia ser apenas um acidente doméstico se revelou simbólico: uma ruptura que interrompeu o ritmo frenético de uma mulher que, como tantas outras, tentava dar conta de tudo — carreira, família, expectativas, aparência, exigências internas e externas. “Na superfície, foi uma fratura. Mas, por dentro, foi um chamado. Um convite para olhar para mim, para o que eu vinha silenciando”, conta Carol.
Durante os meses de recuperação, impossibilitada de andar e afastada de compromissos presenciais, ela encontrou na escrita uma maneira de reorganizar sua dor e sua identidade. “Eu não escrevi com intenção literária. Escrevi para sobreviver. Cada página foi uma conversa comigo mesma”, revela. Assim nasceu A Coragem de Pausar, um livro que, apesar de não ter sido planejado, se transformou em um fenômeno de identificação entre mulheres que vivem no limite do esgotamento.

O livro que nasceu do chão
A obra não segue fórmulas de autoajuda nem oferece soluções fáceis. É um livro visceral, escrito a partir de uma mulher real, em um momento de vulnerabilidade e reinvenção. “Ele não foi feito para performar, mas para tocar. Talvez por isso tenha alcançado tantos corações. As leitoras se veem ali”, afirma a autora.
O título, inclusive, nasceu do movimento que originou tudo: o da pausa forçada. “Há uma cultura que glamouriza o fazer sem parar. E eu estava inserida nela. Só percebi o quanto isso me feria quando parei de fato e fui obrigada a me escutar.”
Com um texto autoral, maduro e poético, Carol entrelaça reflexões terapêuticas, memórias e um convite coletivo: pausar não é fraqueza, é coragem.
De Jundiaí para Madri
A seleção do livro para a Mostra Internacional de Livros foi recebida com surpresa e emoção. “Quando comecei a escrever, estava com a perna imobilizada e emocionalmente exausta. Era eu, meu notebook e uma avalanche de sentimentos. Saber que esse material, tão íntimo, foi reconhecido internacionalmente é algo que ainda estou assimilando”, diz Carol, que representará o Brasil ao lado da Galleryspt, coletivo que dá suporte a autores independentes.
Mais do que o prestígio do evento, que conta com premiação em diversas categorias, o momento marca um ponto de virada na carreira da escritora. “É uma validação potente para quem escreve fora dos padrões editoriais tradicionais. Mostra que há força na autenticidade, que é possível tocar as pessoas com uma escrita feita de dentro pra fora”, afirma.
No entanto, apesar do livro já estar a caminho da Espanha, a presença da autora ainda não está garantida. Carol busca patrocínio e apoio de empresas locais e pessoas interessadas em fomentar a cultura e a literatura autoral. “Estou fazendo o possível para viabilizar minha ida. Levar esse livro até Madri é mais do que uma conquista pessoal. É um gesto político. É mostrar que mulheres podem parar, se escutar e transformar suas dores em algo que ressoa além delas mesmas.”
A força do coletivo
A escolha de caminhar junto com a Galleryspt reforça a importância dos coletivos para quem publica sem apoio de grandes editoras. “Publicar de forma independente exige uma dose enorme de coragem. Você precisa bancar sua história, seu estilo, seu processo. E encontrar um coletivo que valoriza isso muda tudo. Você entende que não está sozinha”, afirma.
Além do suporte prático, iniciativas como essa ampliam a diversidade no cenário literário, trazendo à tona vozes que, de outro modo, talvez nunca tivessem espaço. “Não estamos falando apenas de livros. Estamos falando de representatividade, de escuta, de reconstrução simbólica. É sobre fazer literatura a partir da vida vivida.”
Novos passos: o livro que vem aí
Inspirada pelo reconhecimento e pela resposta do público, Carol já está envolvida em seu próximo projeto editorial: Não era amor, era abuso!, livro que nasce a partir do trabalho terapêutico que realiza com mulheres vítimas de relacionamentos abusivos.
“Esse novo livro é um mergulho mais direto na ferida. Quero ajudar mulheres a nomearem aquilo que vivem, mas muitas vezes não conseguem reconhecer. Ele não suaviza, mas acolhe. Não aponta o dedo, mas ilumina. Não ensina como sair, mas ajuda a perceber onde se está presa”, explica.
Paralelamente, Carol segue conduzindo o KLUb das Leoas, uma comunidade terapêutica de leitura que mergulha no livro Mulheres que Correm com os Lobos. “É um espaço de troca profunda, onde as mulheres se veem, se escutam e constroem pertencimento.”
Escrever como ofício de alma
Hoje, a autora não tem dúvidas: a escrita é sua casa. “Eu achava que estava escrevendo um livro. Mas, na verdade, estava escrevendo uma nova versão de mim mesma. E agora entendo que minha missão é essa: criar palavras que acolham, que provoquem, que sirvam de espelho.”
Com presença ativa nas redes sociais e uma base de leitoras fiéis que cresce a cada semana, Carol Hahmeyer representa uma nova geração de escritoras brasileiras que escrevem a partir da vida real: com coragem, profundidade e voz própria.
“Escrever, para mim, não é só sobre publicar. É sobre oferecer presença. É sobre criar pontes. E é isso que eu continuo fazendo: escrevendo com os dois pés na experiência e o coração aberto para o que ainda está por vir.”
Carol Hahmeyer é psicoterapeuta, escritora e palestrante, com mais de 20 anos de experiência no cuidado emocional de mulheres. Atua na escuta profunda de temas como abuso emocional, reconexão com o feminino e pausas conscientes como ato de coragem.
@carolhahmeyerpsi